Lixão   no Pará ameaça lençol freático
Crea tenta impedir projeto de R$ 800 milhões que estende o uso do maior aterro do Norte por 25 anos, sem licenciamento ambiental
10 de setembro de 2012 | 3h 06
O Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea) do Pará pediu ao   Ministério Público do Estado que suspenda a licitação marcada pela prefeitura de   Belém para o próximo dia 19 e cujo projeto, estimado em R$ 800 milhões, prevê a   utilização do lixão do Aurá, o maior do norte do País - localizado a 19 km do   centro da capital - por mais 25 anos. 
O engenheiro civil, sanitarista e professor da Universidade Federal do Pará   (UFPA) Luiz Otávio Mota Pereira diz que o lixão precisa ser fechado com   urgência, porque o novo projeto de exploração não possui licenciamento   ambiental. Além disso, o local é operado sem técnicas sanitárias e ambientais,   contaminando o solo com chorume, chegando ao lençol subterrâneo. O lixão ameaça   a qualidade do Rio Guamá, principal manancial para o abastecimento de água da   região metropolitana de Belém.
As quase 2 mil toneladas de lixo produzidas diariamente pelas mais de 450 mil   residências da capital e de Ananindeua são depositadas a céu aberto. "Estão   querendo prolongar por 25 anos um dos maiores crimes ambientais do Brasil",   acusa Pereira.
A prefeitura, porém, pretende manter o lixão em operação, elevando a cota   atual de 20 metros para 30 metros de altura. Os engenheiros do Crea garantem que   isso não será possível. 
A área está sendo preparada com lama dragada do canal do Tucunduba, que foi   descarregada no lixão do Aurá entre janeiro e abril. De acordo com a denúncia,   mesmo que fossem somente resíduos domiciliares compactados, não haveria   estabilidade para as parcelas de lixo. 
Outro grave problema é que o chorume continua penetrando no solo abaixo do   lixão. Em 1998, uma tese de doutorado constatou que o chorume fluía para as   lagoas localizadas no sul da área, atingindo principalmente os igarapés Santana   do Aurá, Jarucá e Santo Antônio.
Sobrecarga. O projeto de tratamento e destinação de resíduos sólidos da   região metropolitana de Belém, que começou a ser elaborado em 1984, pretendia   dar uma solução definitiva ao problema. Pela sua localização no bairro do Aurá,   ficou conhecido como lixão do Aurá. Em 1990, quando o projeto estava em   andamento e a área estava prestes a ser impermeabilizada, outro lixão, de Águas   Lindas, foi fechado pela comunidade do entorno. Todo o lixo foi então levado   para a unidade que vinha sendo instalada no Aurá.
Essa nova logística começou a funcionar em outubro de 1990, mas sem as   devidas condições. A base das células 1, 2, 3 e 4 do lixão deixa o chorume   penetrar nas camadas mais profundas e põe em risco o lençol freático. Por isso,   para o Crea, acrescentar 10 metros de lixo sobre uma área imensamente impactada   é aumentar o risco de contaminação.
O sistema de drenagem do chorume citado nas condicionantes do projeto da   prefeitura, ainda segundo o Crea, não conterá o avanço da contaminação do solo,   dos igarapés e do Rio Aurá. O órgão afirma que toda a área do entorno do lixão   do Aurá está comprometida.
Pereira defende a elaboração de um plano de resíduos sólidos para a região   metropolitana, com a implantação de uma nova planta de tratamento e disposição   final. O prefeito de Belém, Duciomar Costa, foi procurado para falar sobre o   pedido de cancelamento da licitação, mas não atendeu às ligações. Um assessor   informou que não há nenhuma irregularidade no projeto e que a licitação está   mantida.
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